Nascida em Caetanópolis, MG, de mãe negra e pai branco, Sonia Gomes é uma fusão também de muitas lembranças. Com a morte da mãe, a menina de quatro anos passou a viver com a família do pai. Para esse novo universo, Sônia trouxe a influência forte da avó, parteira, benzedeira e useira de rodilhas na cabeça. Da família branca, Sonia herdou a ruminação dos guardados, das fotos, dos retalhos de tecidos vindos da fábrica, dos afetos fragmentados.
Ao contrário do que pode parecer, Sonia nunca se interessou por costura, no estrito sentido de confeccionar uma roupa a partir de uma peça de tecido. Sempre usou o pano, a linha e outras coisas como instrumentos de uma intervenção rebelde sobre o que já existe. Da mesma forma, não pretende associar seu trabalho ao imaginário da cultura negra ou branca. Interessa-lhe o fazer, a atitude subversiva de reinventar as coisas. Nesse sentido, como escreveu Umberto Eco, "a tarefa da arte é menos conhecer o mundo do que lhe trazer complementos, formas adicionais ás já existentes e desveladoras das próprias leis e da própria vida pessoal".
Exposição da artista plástica Sônia Gomes na galeria de arte do BDMG, Belo Horizonte em abril 2008.