Pode soar lugar comum falar hoje da grande incidência de uma produção superficial em artes plásticas, marcada mais por tendências da moda do que propriamente por uma busca genuína do artista. Quem produz uma arte assim, está submetido a paradigmas externos, longe dos questionamentos reveladores que a verdadeira inquietação artística traz. A arte, entendida como uma necessidade do espírito, como uma investigação responsável, permanece como o mais legítimo princípio de conhecer a si próprio e de compreender o mundo.
O contato com a arte de Sonia Gomes é um mergulho em seu processo de criação. Desde os primeiros gestos da artista até a finalização dos objetos que vemos já montados em exposição, há uma coerência interna, uma pulsão criativa, uma incontrolável vontade de transformar o mundo, transubstanciando os elementos materiais que o habitam.
Os mais prosaicos objetos que fazem parte do ambiente de Sonia Gomes - como mesa, sofá, banco, espelho, telefone, porta-retrato, estante, televisão - ganham uma nova dimensão, guindados que são, pelas mãos da artista, ao plano da surpresa e do estranhamento. Esse incontido gesto de mudar a realidade em torno chega até ás roupas da artista, onde se vê sobre elas uma intervenção deliberada, no sentido de tirá-las de seu letárgico estado banal. Por extensão, há todo um conjunto de bolsas, anéis, colares. Apesar de usáveis, esses objetos diferem, em sua ideologia, da conhecida wearable art, exatamente por surgirem num contexto mais amplo de criação. O vigor com que Sonia Gomes espalha sua inquietação criativa por onde vive lembra as lições dos mestres do plasticismo abstrato, como Piet Mondrian afirmando que a arte só encontraria sua plenitude quando invadisse a vida.
Usando uma diversidade incontável de panos, linhas, cordas, botões e tudo que seja passível de se costurar e de se amarrar em aglomerações complexas, Sonia Gomes chega aos objetos tridimensionais, como as séries Patuás e Torções. Nascidas da mesma fonte, essas obras têm uma genealogia orgânica. As Torções são esqueletos estruturais revestidos da carne colorida dos tecidos. Passeiam no espaço e expõem sua natureza corpórea. Os Patuás são formas compactas que mais parecem órgãos, ao mesmo tempo autônomos e dependentes, fechados em si e abertos ás suas múltiplas leituras. De todos eles emana uma espécie de respiração, um fluxo-refluxo pulmonar, carregado
Exposição da artista plástica Sônia Gomes na galeria de arte do BDMG, Belo Horizonte em abril 2008.